O poeta é uma ave de arribação,
é um graveto que escreve arrastado,
é como o inverno em um roçado,
que o verde alimento sai do chão.

É uma vereda sem direção,
caminho que se fez embrulhado,
que se desvia para qualquer lado,
e esconde do poeta a inspiração.

Oh, poeta, vela guia, embarcação!
É um mar tantas vezes navegado,
um porto livre, um barco aportado,
é o naufrágio que se fez canção.

O poeta é um portal de inspiração,
é um poema, assim, bem cantado,
na noite escura, num céu estrelado,
vendo a poesia escapar do violão.

Diz da saudade e da solidão,
às vezes o coração apertado,
de tanto que vive só, isolado,
transformando poesia em canção.

O poeta traz no verso a emoção,
da lua nascendo no dedilhado,
de um violeiro apaixonado,
pela poesia do luar do sertão.

Oh, poeta, o que seria da paixão,
longe do teu verso inspirado,
feito alma no peito embriagado,
pelo amor, fruto da inspiração?