Sobre a brancura de paredes inertes e mudas;
Desenho com ecos de lamentos uma pintura;
Amorfa, opaca e taciturna, com palavras surdas;
Confusas, o que parece uma rude criatura;
Que reside, há muito, adormecida na intimidade;
De uma antiga, poderosa e latente saudade.

Às vezes, por fim, em soluços, eu abraço e beijo;
Mergulhado nesta cruel e impiedosa lembrança;
Que a vida foi destruindo, mas o tempo, este sobejo;
Manteve como alimento sem nenhuma esperança;
Tal qual pesadelo adormecido na intimidade;
Um lobo feroz que instiga a latente saudade.

Abeiro minha cabeça destas paredes guias;
Procurando entender as dores do coração;
Ferido, mas me regam a face lágrimas frias;
Empoadas por estilhas da velha desilusão;
Que eu tanto deixei invadir minha intimidade;
Como o fogo devorador da latente saudade.

Choro a dor antiga, aquela dor que ninguém consola;
Que se fez falsa amiga, sendo um real parasita;
Que me devora, que me angustia, que me isola;
Que me faz chorar, que se nutre, que me necessita;
Como quem se alimenta da alma, da intimidade;
Devorando a esperança de uma latente saudade.

Tu vives, eu sei, causadora de toda esta afronta;
Em regozijo no esquecimento do ser amante;
Mas, onde quer que você vá, tua lembrança remonta;
Primitivas cicatrizes que guardam meu semblante;
Em lembranças que marcaram nossa intimidade;
Como o beijo inesquecível que se tornou saudade.